O gene da ditadura inoculado num candidato a governador
A ditadura fazia a gente tremer. A censura sufocava a inteligência. Notícias de torturas, desaparecimentos, mortes circundavam as redações sem que fossem noticiadas. A poesia, quase toda poesia, era proibida. Nos DOI-CODIs da vida, intelectuais e artistas do país berravam de dor sob o terror dos “paus-de-arara” e choques elétricos da polícia política. Era terrível não poder dizer nada. Mais terrível que ser proibido, hoje, de dizer notícias de corrupção.
Mas alguns jornalistas estavam a serviço desse regime de terror. A gente sabia. Não bebiam com a gente. Vigiavam. Catavam nos textos os sintomas da “subversão” e davam conhecimento deles à polícia política e aos agentes nos porões do regime militar. Como disse o poeta Afonso Romano de Santanna “Desaparecia-se, desaparecia-se muito naqueles dias”…
No “Diário de Brasília”, um jornalista chamado Edison Lobão exercia sua atividade profissional. Sobre esse tempo e esse jornalista escreveu Jânio de Freitas: “Como repórter e cronista político do Diário de Brasília prestou serviços diários aos chefões da Ditadura. Seus textos eram como recados saídos do Planalto, de serviços militares ou de informações e armações de políticos governistas contra opositores.
Seu ar soturno caia-lhe muito bem. E assim também quando deu continuidade em lugar mais apropriado – o partido da Ditadura, a Arena, ao papel que escolhera na vida. Sem imaginar a contribuição que a democracia de Lula e do PMDB lhe ofertaria”.
E considerou o ministro Edison Lobão, em tempos recentes, que aquela terrível fase de torturas e genocídios nem pode ser chamada de ditadura. Que ditadura mesmo foi o governo Getúlio Vargas.
É provável que em toda a história da imprensa mundial, desde os primórdios da Galáxia de Gutemberg, nunca uma única pessoa tenha processado tantos jornalistas em tão curto espaço de tempo. E isso significa que Edinho Lobão, talvez por direito de herança, inoculou pelo menos um dos genes da ditadura militar – O gene da censura. E talvez devesse a Justiça atentar para isso, posto que é inaudito, singular, inusitado que alguém tente, pela via do sacrifício econômico, calar tantos profissionais de imprensa de uma só vez.
E aqui estou me lembrando de como era o medo naquele tempo. O medo nos cursos de Comunicação, o medo nos cursos de Direito, o medo nos grêmios estudantis, o medo na OAB, o medo nas redações, o medo de falar, de ouvir, de opinar, escrever, de se organizar, de ser preso, ser torturado, de apanhar.
A censura no Brasil Colônia fazia lista de livros que não deviam ser lidos. Edinho Lobão está montando uma lista de jornalistas que não devem escrever.
Estás ressuscitando o medo, Edinho Lobão. E a História mostra que esse é o teu mais inalienável Direito de Herança.