O comunista que se aliou ao PSDB contra José Sarney
A política do Maranhão pode estar prestes a uma mudança histórica de direção. A dois meses das eleições, Flávio Dino (PC do B) aparece nas pesquisas com pelo menos vinte pontos percentuais de vantagem contra Lobão Filho (PMDB), o representante de José Sarney. Se a vantagem se mantiver, será o fim do predomínio do grupo político do ex-presidente, que chegou ao poder nas eleições de 1965.
Flávio Dino é um personagem ímpar da política nacional sob qualquer aspecto. É do PC do B, mas tem um vice do PSDB. É comunista, mas evoca o nome de Deus nos discursos, fala em valorizar a meritocracia e defende a chegada de investimentos privados ao Maranhão. Católico, Dino usa um colar com a letra grega Tau, símbolo dos franciscanos. Gosta de citações, de Marx a Aristóteles.
O que parece dar força à coligação do comunista é o enfrentamento à oligarquia: “Esse rótulo de candidato anti-Sarney, longe de me incomodar, me honra”, diz ele, na acanhada casa que serve de comitê central de campanha. Dino acabara de participar de um comício a poucos metros dali, na região central da cidade, na última terça-feira.
O primeiro governador eleito pelo PC do B na história pode ser um homem moderado, distante do discurso oficial do partido – que, até hoje, nem mesmo rompeu com o stalinismo.
“É preciso um comunista para instaurar o capitalismo no Maranhão”, brinca, antes de listar as bases de seu programa: a separação entre as esferas pública e privada, atrair investimentos, instituição de metas de desempenho para os órgãos do governo. Isso, explica o candidato, deve permitir a geração de riquezas e, consequentemente, a redução da miséria. Metade da população do Maranhão não tem acesso regular a água e banheiro. Um em cada cinco maranhenses é analfabeto. A taxa de homicídios triplicou em uma década.
Dino também fez uma promessa simbólica: vai vender a casa de veraneio do governo, um imóvel de luxo em São Luís, para custear a construção do primeiro hospital de câncer do Estado.
Flávio Dino tem 46 anos e só entrou para a política em 2006, quando obteve um mandato na Câmara dos Deputados. Até então, ele era juiz federal. Nas eleições de 2010, Dino foi derrotado. Agora, parece ter sido bem sucedido no esforço de construir uma frente ampla contra o grupo político de Sarney, personificado na candidatura de Lobão Filho (PMDB). Flávio Dino tem inclusive o apoio de ex-governadores oriundos do grupo de Sarney. “Dos 50 anos da oligarquia que ele critica, a maior parte está com ele”, provoca Lobão Filho.
Algumas peculiaridades: Dino tem o palanque aberto para os três principais candidatos presidenciais. O PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos apoiam oficialmente a candidatura dele. Já o PT fechou uma aliança com Lobão Filho por causa da aliança nacional com o PMDB. Ainda assim, parte da militância petista aderiu à campanha do candidato do PC do B. Resultado: a poucos quilômetros de distância um do outro em São Luís, estão comitês dos três candidatos presidenciais. Todos eles com fotos de Flávio Dino.
Dado o histórico dos adversários de Sarney (além de Lago, a Justiça também acabou tirando o mandato de João Capiberibe, que chegou a ser eleito governador do Amapá mas foi condenado por ter comprado o voto de dois eleitores pagando-lhes 26 reais), o candidato do PC do B diz estar precavido para não dar brechas a possíveis reviravoltas judiciais.
“Fizemos uma pesquisa e as pessoas não sabem dizer quais qualidades veem no Flávio Dino. Elas votam vota exclusivamente por causa do sentimento de mudança”, diz Lobão Filho, que também se apresenta como um renovador. O peemedebista está confiante de que, com o início da propaganda no rádio e na televisão, vai virar o jogo. Lobão entregou à Justiça Eleitoral uma previsão de 50 milhões de gastos com a campanha, cinco vezes mais do que Flávio Dino.
Flávio Dino sabe que a vantagem nas pesquisas pode não ser definitiva. “Aqueles leões só perderam uma eleição duas vezes”, diz, em referência às imponentes estátuas postadas na entrada do palácio do governo estadual. A primeira derrota, diz ele, foi em 1965, quando José Sarney saiu vencedor com o apoio da ditadura militar. A segunda foi em 2006, com a vitória temporária de Jackson Lago. Flávio Dino está convencido de que será o terceiro.