Foragido que pagou propina a Roseana Sarney vai se entregar à Policia Federal
Em ofício encaminhado no final da tarde
desta sexta-feira à Justiça de Curitiba (PR), a defesa de Adarico
Negromonte Filho, 70 anos, garante que ele vai se apresentar na sede da
Polícia Federal (PF) na cidade na próxima segunda-feira. Ele é o único
suspeito foragido da Operação Lava-Jato.
No documento entregue à Justiça, as
advogadas afirmam que Adarico não pode ser considerado foragido, pois
“em momento algum foi realizada diligência em sua residência na cidade
de Registro, SP, para o cumprimento da medida coercitiva”.
“Assim, o Requerente, por não suportar
mais as mazelas decorrentes da prisão temporária decretada por Vossa
Excelência, por intermédio de suas advogadas, no dia de hoje, entrou em
contato com a Delegacia da Polícia Federal de Curitiba e informou às
Autoridades Policiais atuantes na denominada Operação Lava-Jato, que se
apresentará, a fim de que possa contribuir com as investigações
criminais”, informa a defesa do suspeito, que também pediu a revogação
da prisão temporária dele.
Segundo as investigação, o irmão do
ex-ministro das Cidades Mário Negromonte atuava no transporte de
dinheiro ilícito. Ele seria um dos quatro “mulas” (carregadores de
mercadoria ilegal) usados pelo doleiro Alberto Youssef para entregas
confidenciais.
Eles trabalhavam na GFD, uma das
empresas criadas por Youssef para lavar dinheiro, com sede na Rua Paes
de Barros, em São Paulo. No grupo de transportadores, estão Rafael
Ângulo Lopez, o Véio (condenado no processo originado pela Operação
Curaçao, da PF), e Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca (agente da
PF, preso na Lava-Jato).
Mais de 30 telefones celulares
O baiano Adarico recebeu o apelido de
Maringá por ter se envolvido há mais de uma década com Youssef, natural
dessa cidade do Paraná. Quando o doleiro foi preso em São Luís (MA) com
34 telefones celulares, em março, os policiais encontraram mais de 30
mensagens dirigidas a Adarico.
A capital do Maranhão, aliás, é sede de
outro caso envolvendo Adarico. Contadora de Youssef, Meire Bonfim da
Silva Poza relatou à PF que o doleiro pagou propina ao governo
maranhense. Conforme ela, a mando de duas construtoras, Youssef negociou
o pagamento de R$ 6 milhões em suborno para que o Estado antecipasse um
pagamento de cerca de R$ 120 milhões que beneficiava as empreiteiras.
A contadora diz que Adarico, irmão do
ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, veio ao Maranhão entregar R$
300 mil, que seriam parte do acordo entre o doleiro Yousseff, a
construtora Constran e a governadora Roseana Sarney.
O precatório era o quinto na ordem de
liberação. Após a propina, as construtoras “furaram a fila”, e o
pagamento foi liberado parceladamente. O precatório se referia a um
contrato na metade da década de 1980 para serviços de terraplenagem e
pavimentação da BR-230. O valor se refere a 15% cobrados pelo doleiro.
Quem teria intermediado o repasse do dinheiro, em espécie? Adarico.
A governadora Roseana Sarney (PMDB)
negou conhecê-lo, e o caso é investigado pela Lava-Jato. Homem de
confiança do doleiro Youssef, o advogado Carlos Alberto Pereira da
Costa, em depoimento, fala que Adarico atuava como “mula” internacional.