por Luis Carlos Porto*
Homofobia é
um assunto polêmico, altamente delicado e que desperta muitas paixões.
Quando colocado em pauta de discussão, normalmente são realçados dois
extremos: paixões incendiadas ou silencio total. A pergunta que cabe
aqui, é: por que não procuramos um equilíbrio civilizado que inclua
direitos, deveres, liberdade de pensamento, liberdade religiosa e
tolerância?
Antes de
ir direto ao assunto quero esclarecer algumas questões que, certamente,
vão nos ajudar nessa reflexão. Primeiro, veremos a origem e significado
da palavra FOBIA. Esta palavra tem origem na palavra grega FOBOS, que
significa medo, aversão, repulsa por alguma coisa ou lugar. Para
ilustrar: CLAUSTROFOBIA é o medo extremo de lugares fechados e onde tem
muitas pessoas; AGIROFOBIA é o medo de ruas ou cruzamentos de ruas;
NICTOFOBIA é o medo de lugares escuros.
Na verdade, existem fobias para todos os gostos e situações.
Ninguém é
imune a tudo. Sempre existirão circunstâncias que denunciarão alguma
atitude de repulsa, de medo, de insegurança e até de preconceito. Então,
diante de tantas fobias, encontramos a mais popular, discutida e uma
das mais praticadas, que é a HOMOFOBIA. Certamente a fobia mais dificil
de ser tratada, pelo fato de ser uma fobia social. Esta nada mais é do
que a aversão e repulsa que algumas pessoas tem contra os homossexuais,
lésbicas, travestis, transexuais.
Essa
atitude preconceituosa é percebida quando a pessoa de orientação
homossexual é vítima de chacota na escola, ou tem portas fechadas no
mercado de trabalho, ou até mesmo violentadas fisicamente em nossas
cidades – fato não muito incomum.
Os
homossexuais são cidadãos do mesmo nível que os heterossexuais; eles são
trabalhadores, são empresários, estudantes, estão no campo e na cidade,
pagam impostos, tem família, etc. Ou seja: perante a lei devem ter os
mesmos direitos e deveres. À eles, é assegurado por lei um convívio
social cidadão.
Mas a mesma lei que garante igualdade civil também garante a liberdade de pensamento e a liberdade religiosa.
Isso
significa que todo cidadão pode expressar livremente suas idéias, seus
pontos de vista, suas pressuposições sobre qualquer coisa, fatos,
eventos desde que não gere problemas de segurança nacional ou fira a
honra de alguém. Em nosso país todo pensamento e ideologia política tem
guarida garantida por lei. Podemos concordar e podemos discordar.
Podemos concordar com a política do governo, mas podemos discordar.
Podemos concordar com a justiça, mas podemos também discordar. Sempre
mantendo o respeito às leis e a honra das pessoas, somos livres para
expressar nossos pensamentos.
Assim
também acontece do ponto de vista religioso. Considerando que o Estado é
laico, não religioso, sem religião oficial, o governo não pode legislar
assuntos religiosos. Cada religião é soberana na sua doutrina, governo e
liturgia. Mas a pratica religiosa não pode afrontar a segurança
nacional nem a honra das pessoas estranhas àquela religião.
Ora, em
toda religião existem coisas permitidas e coisas proibidas. Princípios
de fé e princípios refutáveis. Um exemplo: o cristianismo bíblico crê na
ressurreição, o espiritismo crê na reencarnação. Ambas doutrinas são
excludentes. Ressurreição e reencarnação não andam juntas. O Estado vai
se meter nesse negocio? Não! Cristãos e espíritas andam em pé de guerra?
Absolutamente, não!
Por que? Porque é um principio de fé pessoal. Acredita e pratica quem quiser.
Quando o
livre pensamento e a livre prática da fé religiosa entende e crê que sua
doutrina de gênero não inclui o homossexualismo, isto é, compreende que
isso não é uma pratica natural, daí vamos dizer que tais pessoas são
homofóbicas? Em hipótese alguma! A Constituição Federal garante o livre
pensamento e a livre expressão de fé.
A
liberdade de expressão e a liberdade religiosa são coberturas para a
homofobia? De jeito nenhum! HOMOFOBIA É CRIME. Nesse país todos são
livres para expressarem sua sexualidade. A expressão de gênero não leva
ninguém para a cadeia. E deve ser assim mesmo em qualquer sociedade
democrática.
Lembrar
nunca faz mal: o livre pensamento e a prática religiosa não devem atacar
o caráter das pessoas, não devem fechar as portas de emprego e nem
devem deixar de convidar o amigo homossexual para o aniversario do filho
ou para a festa de natal.
A justiça
tem que punir os preconceituosos, os agressores, os intolerantes. Mas
não pode punir quem pensa diferente, quem crê diferente.
Nesse
país é fácil encontrar atitudes homofóbicas. Mas também tem sido fácil
lançar o rótulo de homofóbico em pessoas que pensam diferente e creem
diferente. Tudo tem o seu lugar. Com tolerância, mas sem negociar
princípios, homossexuais e heterossexuais podem conviver pacificamente
na sociedade.
Afinal de
contas, a instância julgadora é outra. O tribunal é outro. E todas as
pessoas serão julgadas na eternidade pelo que fizeram ou deixaram de
fazer.
Enquanto
isso, na instância daqui, mesmo não concordando, respeitemos as decisões
do nosso próximo, pois cada um é responsável pelos seus atos. Mas se
alguém encontrar ouvidos para ouvir seu pensamento e a sua fé, aproveite
a oportunidade.
Mas faça isso com amor e respeito pelo seu ouvinte.
*Luis Carlos Porto é pastor presbiteriano, ex-vice-governador e atual vice-prefeito de Imperatriz