Obra enciclopédia mostra porque Caxias se tornou e continua sendo a Princesa do Sertão Maranhenese
por Ribamar Corrêa
Quer conhecer Caxias? Folheie Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias, um tesouro gráfico, enciclopédico, com 499 páginas nas quais estão retratadas, ricamente, todas as faces da Princesa do Sertão Maranhense. Nele estão documentadas verdades preciosas, que expressam os mais diferentes cenários em que se desenvolveu a vida da hoje terceira maior e mais importante unidade política do Maranhão, como, por exemplo, números reais do seu Produto Interno Bruto, e nuanças que marcaram a Balaiada, uma das revoltas mais importantes do Brasil Imperial. Ou ainda acerca dos mais diversos estilos arquitetônicos que expressam sua evolução urbana, ou também a especialíssima culinária, que tem como item primeiro o Pirão de Parida. Fruto do trabalho hercúleo do escritor Renato Meneses, do historiador Isaac Sousa e do jornalista e escultor Jotônio Vianna e, segundo eles “mais 40 mãos”, Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias foi lançado no dia 15, como ponto alto da festa do 18º aniversário da Academia Caxiense de Letras, incentivadora da obra.
O pirão de parida é o prato tipico mais conhecido de Caxias |
O volume que retrata Caxias não é uma obra qualquer, vai muito além do conceito de compêndio que caracteriza edições enciclopédicas. Seus autores se impuseram e venceram com muita competência o desafio de mostrar o mundo caxiense como ele realmente o é, trazendo à tona os acontecimentos que, somados e consolidados, produziram a Caxias de hoje. Assim, se alguém estiver interessado na geologia do território caxiense, basta consultar a obra para obter as informações básicas para uma pesquisa mais apurada. Os interessados na arquitetura encontrarão no volume dezenas de páginas que exibem os estilos que vão do colonial português ao neoclássico.
O Palacio Episcopal revela o peso da igreja católica em Caxias |
Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias registra que a cidade e seus arredores têm uma bacia hidrográfica privilegiada, o que já levou alguns a defini-la como “Paraíso das Águas” e que tem no Itapecuru a sua aorta hídrica, onde desaguam inúmeros riachos e córregos, muitos deles formados por nascentes brejais, além da fonte medicinal de Veneza. Mostra também uma natureza diversificada, que vai de cerradões a matas ciliares, passando por chapadões e carrasco. O clima se alterna entre muito quente, mas também alcança 19 graus nos meses mais frios. O leitor saberá também que hoje com pouco mais de 5 mil quilômetros quadrados, o território caxiense já representou boa parte do Maranhão e deu origem a dezenas de municípios, Codó e Timon, por exemplo. E terá conhecimento ainda que ao Norte se limita com Codó, Aldeias Altas e Coelho Neto; ao Leste com Timon e Estado do Piauí, a começar por Teresina; e a Oeste com São João do Sóter, além de informações precisas sobre a sua evolução populacional.
Os três autores e as “40 mãos” que os ajudaram foram cuidadosos em mostrar a economia caxiense, formada pela produção industrial e pelo comércio atacadista, que tornou a cidade um grande polo regional de circulação de mercadorias e riqueza. Resgataram informações preciosas sobre as épocas áureas dos mais diversos segmentos econômicos, como a do arroz, ali beneficiado e exportado, do algodão, que foi beneficiado por uma forte indústria têxtil, e do babaçu, que respondeu por outro ciclo de riqueza. Registra também os itens de infraestrutura, como a energia, por exemplo, que garantiram o processo econômico.
A cultura popular maranhense |
Em meio às centenas de páginas encontram-se ricos registros sobre a religiosidade da sociedade caxiense, expressada pela grande quantidade de templos católicos – a grande maioria -, evangélicos e por manifestações religiosas de origem afro. Nesse contexto, Caxias formou uma estrutura educacional, com escolas de alto nível como o Colégio São José, o Colégio Diocesano, o Colégio Caxiense e a Escola Técnica de Comércio, que deram origem a muitas outras instituições escolares, levando a cidade a se tornar hoje um centro universitário, saudando ainda seus mestres mais destacados. Além disso, o denso trabalho informa sobre as mais diversas manifestações da cultura popular – bumba-boi, dança do coco, quadrilhas, entre outros, e apresenta também a Caxias dos movimentos teatrais, da produção poética, da diversidade literária e de um jornalismo que em outros tempos movimentava a cidade.
As ruinas do Forte da Balaiada no Morro do Alecrim |
Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias mergulha fundo na História, desenhando com firmes pinceladas o roteiro agitado em que Caxias se movimentou como uma sociedade elitizada, insubmissa e orgulhosa, desde a sua origem até os dias atuais. Mostra a formação da vila colonial, conta sobre as guerras ali travadas, relata momentos ricos da Balaiada e registra que o Morro do Alecrim, palco de muitos embates, incluindo a derrota dos balaios para as tropas comandadas pelo então futuro Duque de Caxias, é hoje espaço de museu e de pesquisa arqueológica. E documenta também o cenário da política contemporânea, que hoje se mantém pelo embate permanente de dois grupos. Um é liderado pelo atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT), hoje o político de maior expressão, e que está no poder por meio do prefeito Leonardo Coutinho, e o outro tem à frente o ex-prefeito Paulo Marinho (PMDB). Esses grupos mantêm a tradicional política marcada por fortes agitações, que sempre a caracterizou, principalmente nas grandes batalhas eleitorais.
Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxias coroa sua natureza documental com registros especialíssimos sobre a vida cultural da cidade, que hoje conta com três instituições que muito contribuem para essa permanente agitação. A primeira é a Academia Caxiense de Letras, de cujas fileiras têm saído uma expressiva produção literária e cujas atividades permanentes incentivam as novas gerações a alimentar a cultura caxiense. A segunda é o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, que atua na mesma direção. E, finalmente, a mais recente: a Velha Guarda Caxiense, um movimento despretensioso, surgido apenas para estimular o reencontro de amigos, mas que ganhou volume e hoje suas reuniões a cada dois anos acontecem em meio a uma semana de festas e eventos culturais, que já fazem parte do calendário cultural da cidade.
Qualquer caxiense que folhear Cartografias Invisíveis – Saberes e Sentires de Caxiascertamente se enxergará nas suas páginas, e por um sentimento de orgulho, agradecerá a Renato Meneses, Isaac Sousa e Jotônio Vianna, às “40 mãos” a mais, à Academia Caxiense de Letras e aos patrocinadores. E por perceber, de cara, que, no mês do seu aniversário, a Princesa do Sertão ganhou um presente e tanto.