O que levou os Sarney ao mesmo palanque de Flávio Dino no Maranhão
Rivais nas eleições do Maranhão de 2014 e 2018, o ex-governador Flávio Dino (PSB) e a família Sarney devem subir no mesmo palanque em 2022. Como mostra reportagem de VEJA desta semana, o MDB do ex-presidente José Sarney e da ex-governadora Roseana Sarney e o PV, presidido localmente pelo deputado estadual Adriano Sarney, neto do patriarca e único membro da família com mandato eletivo, caminham para apoiar Carlos Brandão (PSB), ex-vice de Dino que atualmente ocupa o Palácio dos Leões. O ex-governador, que consolidou a decadência do clã no estado, ocupará a vaga ao Senado na chapa e a vice deve ser indicada pelo PT.
Além das raízes políticas de Brandão, que remetem ao “sarneysismo, e do apoio em comum ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), são distintas as razões práticas que aproximam os Sarney de alianças com o candidato de Flávio Dino. No caso de Roseana, ela encarna o plano da família de voltar ao jogo político de Brasília, mais precisamente ao Congresso. Sem cargo político desde que concluiu o quarto mandato no governo do Maranhão, em 2014, e derrotada por Dino em 2018, a ex-governadora preside o MDB estadual e liderava as pesquisas para o governo em 2022, mas decidiu disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
A decisão foi tomada sob a estratégia do partido de aumentar bancada na Casa. Suas chances de sucesso são tão grandes na modesta empreitada que aliados esperam dela a maior votação no estado, a ponto de ajudar a eleger de três a quatro deputados federais da sigla com seus votos. Segundo políticos próximos à ex-governadora, o anúncio oficial do apoio a Carlos Brandão está por detalhes. “Estamos com 90% nesse encaminhamento, praticamente fechados”, diz o vice-presidente do MDB no estado, deputado estadual Roberto Costa.
No caso do MDB, ainda colaboraram à aproximação os acenos de Flávio Dino ao partido e ao ex-presidente. Em outubro, Dino buscou apoio de Sarney para ser eleito à cadeira da Academia Maranhense de Letras deixada por seu pai, Sálvio Dino, morto de Covid-19 em 2020. Outros gestos reconhecidos de parte a parte foram a exposição do governador nos canais de comunicação do Grupo Mirante, de Sarney, durante a pandemia, e o apoio aberto de Flávio Dino ao deputado Baleia Rossi, presidente do MDB, na disputa pela Presidência da Câmara em 2021.
Embora tenha flertado com o bolsonarismo no início do governo, o deputado Adriano Sarney preside no estado o PV, integrante da federação nacional com PT e PCdoB que fechou aliança com o PSB na eleição presidencial. Brandão será o palanque do ex-presidente Lula no Maranhão. Filho do ex-ministro do Meio Ambiente José Sarney Filho, o Zequinha, Adriano buscará a reeleição neste ano e já se queixou publicamente de Dino por excluir aliados das articulações pró-Lula. “Vivemos um novo tempo, de não-agressão, essas questões políticas já acabaram e as pessoas podem conviver nessa nova era, de trabalharmos juntos pelo Maranhão”, diz Adriano, que virou notícia em 2019 ao pedir que se retirasse o sobrenome famoso de sua alcunha política.
O PV não integrava a base aliada de Flávio Dino, mas se juntou a Carlos Brandão quando ele assumiu o cargo. Embora o apoio a Brandão esteja encaminhado e tanto PT quanto PSB estejam confortáveis com Senado e vice, Adriano faz questão de ressaltar que a federação ainda não decidiu formalmente sua posição sobre estes cargos majoritários. Além disso, o PT maranhense, que tem como nome à vice o ex-secretário Felipe Camarão, se vê dividido entre Brandão, apoiado pela direção estadual, e alas que defendem o senador Weverton Rocha (PDT), voz do anti-sarneísmo na campanha.
Alianças insólitas
A aproximação dos Sarney com o candidato de Flávio Dino e a divisão no PT entre Carlos Brandão e Weverton Rocha estão entre os ingredientes do verdadeiro sururu maranhense no cenário eleitoral do estado. A escolha de Flávio Dino pela candidatura de Brandão rachou de vez a heterogênea base aliada do ex-governador e já vinha em crise desde a eleição municipal de 2020, quando houve teve três candidatos governistas à prefeitura de São Luís. Apesar do cisma, a esquerda tem liderado as pesquisas de intenção de voto ao governo, com Brandão e Rocha à frente, mas Dino não tem sido poupado por se aproximar de antigos rivais. “A escolha pessoal de Flávio Dino, infelizmente, não teve nada a ver com a história do nosso grupo político”, disparou Weverton Rocha em uma de suas críticas.
Preterido na escolha do ex-governador, o candidato do PDT espera abrir seu palanque tanto ao presidenciável de seu partido, Ciro Gomes, quanto a Lula, a quem faz muita questão de se atrelar. Por outro lado, Rocha vai apoiar a reeleição do senador bolsonarista Roberto Rocha (PTB) e tem tratativas com o igualmente bolsonarista Josimar de Maranhãozinho (PL) para que ele abra mão de sua pré-candidatura e lhe declare apoio. A disputa ainda tem o ex-prefeito de São Luís Edivaldo Holanda (PSD) e o “bolsonarista raiz” Lahesio Bonfim (PSC).
Da revista Veja