Luis Fernando não foi o primeiro
O ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, dizia que política é como nuvem. Se você olha para o céu a verá de um jeito, mas se baixa a cabeça e volta a olhá-la, terá outra forma.
Os últimos fatos aqui acontecidos com relação à sucessão da governadora Roseana Sarney, mostram que, no Maranhão, a nossa política tem tudo a ver com a movimentação das nuvens.
Bastou que a pré-candidatura de Fernando Silva, que se imaginava consolidada ao governo do estado, fizesse água para que uma mudança de 180 graus se operasse nas hostes governistas. Mais do que depressa, as lideranças palacianas agiram para não deixar que o vácuo político se estabelecesse e terminasse por levá-las a um buraco fundo e sem luz.
Sem um Plano B para usar na hora em que Luis Fernando jogou a toalha, o jeito foi recorrer a uma pesquisa que apontava o suplente de senador, mas no exercício do mandato, Edinho Lobão, bem cotado para disputar a vaga de Cafeteira, para fazê-lo substituto do renunciante e com a missão de enfrentar o candidato das oposições, Flávio Dino.
Ainda que seja um inexperiente em matéria de disputa eleitoral, Edinho ou Lobão Filho, como querem seus adeptos políticos, aceitou de pronto o desafio de substituir Luis Fernando e a incumbência de concorrer à convenção partidária que o homologará candidato às eleições deste ano à sucessão de Roseana Sarney.
E, no que aceitou o desafio, não perdeu tempo: caiu em campo e mostrou ser bem diferente de Luis Fernando, este, um extraordinário técnico e competente gestor, mas inabilitado para conviver com a prática política vigente no Maranhão. Como o seu discurso e sua postura política não sensibilizaram o eleitorado, acabou por inviabilizar-se como candidato do grupo Sarney.
Em vinte dias do lançamento de sua pré-candidatura, Lobão Filho, com desassombro e pertinácia, mudou radicalmente o quadro político maranhense. Mais ainda: conduziu Luis Fernando ao ostracismo, animou, fez o grupo palaciano acreditar que será um candidato competitivo e que pode mudar uma situação que se vislumbrava difícil de reverter.
Diante dessa marcante reviravolta no cenário político, como sempre o faço, recorro aos anais da nossa história contemporânea para investigar se foi Luis Fernando o primeiro pré-candidato defenestrado numa luta política no Maranhão? A resposta é: não. Em dois momentos, em que a sucessão governamental estava em pauta, episódios semelhantes, mutatis mutandis, afloraram.
O primeiro ocorreu na sucessão do governador Newton Bello, em meados de 1965. Empossado governador em 1961, ele assumiu o compromisso público de fazer do deputado Renato Archer seu substituto.
Renato, contudo, só foi o pré-candidato do PSD e de Newton Bello até a deflagração do movimento militar. Nas proximidades da convenção que o indicaria candidato a governador, o presidente Castelo Branco convocou Newton Bello para uma reunião em Belém do Pará e ali foi direto, curto e grosso: – A Revolução de 64 não quer Renato no governo do Maranhão. Ele é nosso inimigo e o senhor tem que escolher outro para substituí-lo.
O governador quis resistir, mas cedeu diante da ameaça de ser cassado. Ao voltar a São Luis, disse aos correligionários o que se passara em Belém. Renato Archer não aceitou o veto militar, deixou o PSD, rompeu com Newton Bello, obrigando-o ainda a buscar outra sigla partidária – o PDC, pelo qual lançou o prefeito de São Luis, Costa Rodrigues, à sua sucessão, fato que o levou a distanciar-se do senador Victorino Freire e a perder o pleito para José Sarney.
O segundo deu-se na época em que Epitácio Cafeteira governava o Maranhão, eleito graças a um acordo pelo qual ele não vetaria a candidatura de Sarney a vice-presidente da República, na chapa encabeçada por Tancredo Neves. Em compensação Sarney assumiu o compromisso de fazer de Cafeteira o sucessor de Luiz Rocha.
Cafeteira, no governo, só lutou pelo deputado Sarney Filho até certo tempo. Na medida em que o mandato de Sarney na Presidência da República se aproximava do final, Cafeteira começou a puxar o tapete de Sarney Filho e a articular, por trás dos panos, um golpe para o vice-governador João Alberto não substituí-lo, no pressuposto de que se licenciara da função de vice para exercer o cargo de prefeito de Bacabal.
A partir desses acontecimentos, começaram a vir à tona os desentendimentos, que se aguçaram e desaguaram no rompimento entre o governador e o presidente da República e na desistência de Sarney Filho de concorrer ao pleito.
Para substituí-lo, já que se aproximava o prazo da realização das convenções partidárias, foi convocado o então deputado Edison Lobão, que não se fez de rogado, ao contrário, partiu resoluto para lutar contra o candidato João Castelo, este, fortalecido pelo apoio de Cafeteira.
Resultado: as eleições de outubro de 1990 só foram definidas no segundo turno, quando Lobão, de forma sensacional, esmagou João Castelo, vencedor do primeiro turno.