Xingar ou vaiar algum tipo de autoridade resolverá o problema?
Qualquer falta de respeito repercute de forma negativa
No último dia 12 de junho alguns brasileiros mostraram ao mundo que entendem mais de grosseria do que de civilidade e futebol. Durante a abertura da Copa do Mundo na Arena Corinthians, em São Paulo, parte da torcida brasileira decidiu xingar a presidente Dilma Rousseff. Enquanto as atenções de jornalistas e cidadãos de todas as partes do planeta estavam voltadas ao Brasil, aqueles brasileiros resolveram exibir selvageria e arrogância. Essa foi a imagem constrangedora transmitida ao mundo.
Em um primeiro momento, a hostilidade poderia até ser interpretada como um manifesto pela insatisfação com os gastos da Copa ou com os problemas que o País enfrenta nas áreas da saúde e educação. Entretanto, existe uma grande diferença entre protesto e estupidez. O protesto inteligente chama atenção para a causa reivindicada. Já o desrespeito apenas comprova a boçalidade de quem protesta.
Mais do que um insulto à presidente, as vaias em forma de palavrão ofenderam o Brasil. Afinal, vivemos em uma democracia e Dilma é a governante eleita pela maioria dos brasileiros. Ao escolher o xingamento, os supostos manifestantes provaram que são intolerantes com opiniões divergentes e não respeitam o próprio País.
Além disso, proferir xingamentos em uma cerimônia internacional com autoridades do mundo inteiro significa falta de educação, não importa o lugar em que o evento ocorra. Outro fato curioso é que as ofensas contra a presidente começaram na área VIP do estádio. Muitos dos que estavam naquele espaço eram convidados de empresas multinacionais beneficiadas pela Copa. Outros pagaram centenas de reais para ocupar aquelas cadeiras. Os palavrões, nesse caso, podem representar também uma forma de hipocrisia.
Mas, afinal, todos deveriam ter aclamado a presidente na abertura da Copa do Mundo? É claro que não. Vivemos em uma democracia e cada brasileiro é livre para ter a própria opinião. No entanto, há formas mais inteligentes de expressar ideias, não é mesmo?
Quem não concorda com a política que permitiu a realização da Copa, por exemplo, poderia ter evitado a ida ao estádio. Outra opção seria fazer uma manifestação mais clara, dizendo com todas as letras o motivo do descontentamento. Boicotar o evento também seria uma atitude coerente: bastaria não ligar a televisão e não frequentar nenhum local em que os jogos estejam acontecendo. E as vaias, poderiam ter sido proferidas? Sim, mas os descontentes não precisavam ter apelado para o baixo nível.
Mas, se o problema são os governantes eleitos, a arma mais legítima continua sendo o voto. Em outubro, cada cidadão terá o direito de fazer valer a própria opinião nas urnas, sem precisar de grito ou xingamento. A votação só exige razão e paciência para analisar as propostas e escolher o melhor candidato ou candidata a presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual ou distrital. Esse sim é um verdadeiro ato de civilidade.
Palavrões geram discussão
No dia 13 de junho, um dia depois de ser xingada em São Paulo, a presidente Dilma Rousseff garantiu, durante cerimônia no Distrito Federal, que não vai se deixar abater por agressões verbais. A presidente lembrou que já foi vítima de torturas físicas durante a ditadura militar. “Suportei agressões físicas, quero dizer para vocês, quase insuportáveis. E nada me tirou do meu rumo. Nada me tirou dos meus compromissos nem do caminho que tracei para mim mesma. Não serão xingamentos que vão me intimidar e atemorizar. Eu não vou me abater por isso”, disse.
A presidente ainda comentou que o incidente, na opinião dela, não reflete o pensamento do “povo brasileiro”. “O povo brasileiro é um povo civilizado e é um povo extremamente generoso e educado”, argumentou.
O presidenciável do PSDB Aécio Neves também condenou o ato e disse que a manifestação do sentimento dos brasileiros “deve se dar no campo político sem ultrapassar os limites do respeito pessoal”.
No último dia 16 de junho, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, criticou os xingamentos. “Baixaria. Foi um horror”, disse o ministro, que irá se aposentar no final deste mês.