Saúde lança campanha contra racismo no Sistema Único de Saúde
Agência Brasil
A condição de mulher negra com doença falciforme constantemente
esbarra no desrespeito e no descaso quando Maria Zenó Soares procura
atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os profissionais de saúde
não acreditam na dor que a gente sente. Acham que é exagero”, conta, ao
avaliar que a população negra, em sua maioria, sofre racismo
institucional na rede pública sem sequer saber que é vítima. “O que
queremos é ser respeitados enquanto seres humanos que somos”.
Diante
de casos como o de Maria Zenó, o governo federal lançou nesta
terça-feira (25) a primeira campanha publicitária que busca envolver
usuários do SUS e profissionais de saúde no enfrentamento ao racismo
institucional. Com o slogan "Racismo faz mal à saúde.
Denuncie!", a iniciativa visa a conscientizar a população de que a
discriminação racial também se manifesta na saúde.
A campanha
prevê ainda que, por meio do Disque Saúde 136, as pessoas possam
denunciar qualquer situação de racismo que tenham presenciado, além de
se informar sobre doenças mais comuns entre a população negra e que
exigem maior acompanhamento, como a doença falciforme e o diabetes tipo
2.
Dados do Ministério da Saúde indicam que uma mulher negra
recebe menos tempo de atendimento médico do que uma mulher branca. Os
números mostram que, enquanto 46,2% das mulheres brancas tiveram
acompanhante no parto, apenas 27% das negras utilizaram esse direito.
Outro levantamento revela que 77,7% das mulheres brancas foram
orientadas sobre a importância do aleitamento materno, enquanto 62,5%
das mulheres negras receberam essa informação.
Segundo a pasta, as
taxas de mortalidade materna infantil entre a população negra são
superiores às registradas entre mulheres e crianças brancas. Os números
mostram que 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34%
entre mulheres brancas. Já na primeira semana de vida, a maioria das
mortes é registrada entre crianças negras (47%) entre as brancas, o
índice é 36%.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, avaliou que o
grande desafio da pasta é produzir igualdade em meio à diversidade.
“Dados importantes mostram como a desigualdade e o preconceito produzem
mais doença, mais morte, mais sofrimento”, disse. “O que mais pode
justificar essa diferença [no atendimento a brancos e negros no SUS] que
não seja o preconceito e o racismo institucional”, questionou.
Segundo
Chioro, é preciso conscientizar os profissionais de saúde da rede
pública sobre a existência do racismo institucional e a necessidade de
combatê-lo, além de enfrentar mitos como o de que o negro é mais
resistente à dor e, por isso, não precisa de medicação para aliviar o
sofrimento. “Não podemos tolerar o preconceito ou nenhuma forma de
racismo na saúde”, concluiu.
A campanha vai ser veiculada de 25 a
30 de novembro. Ao todo, 260 mil cartazes e 260 mil folders vão ser
distribuídos nas unidades de saúde aos profissionais e à população em
geral.