Voto de Sarney em Aécio Neves é "vingança pessoal contra Dilma", disse Flávio Dino
Em entrevista ao Roda Viva, da TV
Cultura, na noite desta segunda-feira (17), o governador eleito do Maranhão, Flávio Dino
(PCdoB), afirmou que o senador José Sarney (PMDB) votou em Aécio Neves (PSDB)
nas eleições presidenciais para vingar-se da presidente reeleita Dilma Rousseff
(PT).
"Da parte dele, não há duvida: é
um gesto de vingança íntima e pessoal", disse Dino. "É algo muito
revelador, na verdade, dessa figura pública, a qual não compete a mim julgar:
quem julgará é a história", acrescentou.
Aliado dos governos petistas, Sarney
foi flagrado votando em Aécio em um colégio de Macapá, no Amapá, sua base
eleitoral. Uma televisão de propriedade da família Sarney gravou o momento em
que o senador apertou as teclas do candidato tucano.
No Maranhão, Flávio Dino derrotou
Lobão Filho (PMDB) na disputa pela sucessão da governador Roseana Sarney
(PMDB). Diante da concorrência de dois aliados, Dilma optou pela neutralidade e
não manifestou apoio público a ninguém, embora a direção nacional do PT tenha
declarado a Lobão Filho, o que incomodou os petistas maranhenses, favorávei ao
apoio ao candidato comunista.
Maranhão
"nórdico"
O comunista listou, em seu programa
de governo, 65 medidas para recuperar o atraso do Maranhão das últimas décadas.
Indagado sobre se não está sendo pouco realista ao apresentar um número extenso
de medidas, Dino afirmou que a necessidade de mudanças impõe uma agenda
ambiciosa.
"Parti de uma leitura da
realidade. A realidade maranhense aponta para a necessidade de ter uma dimensão
transformadora. Se se coloca o realismo como limite da sua atuação política, na
verdade se vai evoluir muito pouco", disse. "Vou sonhar com o
Maranhão que seja comparável aos países nórdicos. Quero que os cidadãos do meu
Estado usufruam das condições de vida que os noruegueses usufruem."
Comunismo e
"forças capitalistas"
Apesar de declarar-se comunista
"graças a deus", Dino afirmou que não há como aplicar na prática
todos os pressupostos socialistas. "Esse é um debate de proporções
internacionais, se revolução num só país é viável. E não é! Imagine em uma
unidade federada? Nosso programa é de desenvolvimento", disse.
Primeiro governador eleito na
história do PC do B, Dino defendeu a "partilha do poder" e
"participação popular", mas apontou para a necessidade de fortalecer
o mercado e aumentar investimentos no Maranhão. "Tenho dito que iremos
ajudar o desenvolvimento das forças capitalistas no Maranhão."
Ex-juiz federal, o governador eleito
afirmou não acreditar que tenha o mesmo destino de Jackson Lago (PDT), que
derrotou Roseana Sarney nas urnas, mas teve a candidatura cassada por crimes
eleitorais.
"O modo com que fizemos a
campanha, o respeito à legalidade e a mudança na conjuntura política evita a
repetição dessa tragédia", disse, acrescentando que considerou
"injusta" a cassação de Lago. "Sarney era presidente do Senado,
Roseana era senadora, eles tinham uma força parlamentar muito grande. Essa
força política claro que ainda existe, mas é muito menor."
Questionado sobre quais serão suas
ações para melhorar o presídio de Pedrinhas, cenário de uma série de mortes nos
últimos meses, Dino afirmou que é preciso "recuperar a autoridade do
Estado sob o sistema penitenciário."
Operação Lava Jato
e reforma política
O governador eleito disse que conhece
o juiz Sérgio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava Jato, além do
ministro Teori Zavascki, relator do processo no STF (Supremo Tribunal Federal).
"São magistrados que vão conduzir as investigações bem."
Para Dino, os acontecimentos
relacionados à Lava Jato vão provocar um terremoto no Congresso. "Estamos
diante de fatos que implodiram o sistema de organização do jogo político. A
reforma política se tornou um imperativo absoluto, o Congresso vai ter que
deliberar. Só lamento que vai deliberar no meio de um profundo terremoto."
Ainda sobre a reforma política, o
governador eleito disse que o melhor caminho é buscar uma constituinte
exclusiva para deliberar sobre as mudanças no sistema político, mesma proposta
defendida pelo PT e pela presidente Dilma. "Como tese, a da constituinte é
a melhor de todas, em função do nível de legitimidade e da participação
popular."
Democratização da
comunicação
Flávio Dino defendeu que haja uma
democratização dos meios de comunicação no Maranhão, onde a família Sarney é
dono de grande parte dos principais veículos. "Se um grupo familiar
controla todo os veículos, é uma negação à liberdade de expressão a
todos", afirmou Dino.
O comunista se disse contrário a
qualquer "tipo de controle de conteúdo", mas afirmou que é preciso
haver regulação econômica do setor, conforme previsto na Constituição. "É
razoável debater aquilo que está na Constituição. Organização do mercado que
não seja baseado em monopólios e oligopólios."