"Maranhão, minha terra, minha paixão, onde meus olhos se abriram para o mundo"
Após 60 anos de vida política, o senador José Sarney fez seu
último discurso no Senado, nesta quinta-feira (18). O ex-presidente do
Brasil e do Senado Federal vai se aposentar e deixa um importante legado
político e intelectual.
Em seu discurso ele afirmou que é muito
supersticioso e avesso as despedidas, e não gosta de dizer adeus, por
isso, só queria expressar sua gratidão. “Quero deixar nos anais do
Senado a natural emoção que tenho neste momento, que me leva a dizer que
não estou fazendo um discurso de despedidas, mas a motivação de estar
aqui é apenas uma palavra, a de gratidão”, disse o senador.
José
Sarney externou seu agradecimento ao povo do Maranhão, que segundo ele é
uma terra cheia de riquezas. “Gratidão ao povo do Maranhão, minha
terra, minha paixão, onde meus olhos se abriram para o mundo”, declarou.
Sarney
apontou que o Estado é o 2º complexo portuário do Brasil, responsável
por 14% de toda a carga que o país tem de exportação. Outro ponto, é que
o Maranhão cresceu 10,3%, ocupando o 13º lugar na criação de empregos e
é a grande atração de investimentos, com a 2º maior relação
dívida/receita do país.
O senador destacou, ainda, que o Estado
tem absoluto controle das contas públicas e de responsabilidade fiscal,
com as despesas com Saúde tendo crescido 138%, diante dos 39% que
cresceu o Brasil. Com a Educação tendo crescido 75%, contra 22% do
Brasil e com a Segurança Pública tendo crescido 53%, contra 16% do
Brasil.
“Esses números chocam, porque nossa mídia escolhe sempre o
Maranhão como um Estado que é um exemplo para o Brasil de crescimento
menor, quando, na verdade, ele está numa vanguarda bastante avançada”,
afirmou Sarney.
O ex-presidente do Brasil agradeceu, ainda, ao
povo brasileiro, que lhe deu a oportunidade de ser presidente da
república. Ele declarou que contribuiu para melhorar a vida das pessoas,
fazendo a transição para democracia com os tempos de maior liberdade,
plenos direitos civis, cidadania e deixando uma sociedade democrática.
“Só Deus é testemunha do que isso me custou e das cicatrizes que até
hoje sangram”, pontuou.
Agradeceu, também, ao povo do Amapá, que
lhe deu três mandatos de senador. “Gente boa, generosa, trabalhadora,
que vai cumprir o destino de construir, isso não tenho dúvida, um dos
maiores Estados da Amazônia”, declarou.
Sarney afirmou que
encontrou o Amapá com a economia dependendo do cheque dos funcionários
públicos e com a energia racionada, e hoje, ele é uma zona de livre
comércio consolidada, e com grande dinamismo mercantil. “Criei a zona
franca verde de aproveitamento de produtos regionais, três
hidrelétricas, uma já em funcionamento - a de Santo Antônio - e duas em
construção – a de Caldeirão e Ferreira Gomes”, citou.
O ex-presidente falou de várias obras que realizou como senador e presidente da república e agradeceu a Deus pela vida.
“Gratidão
a Deus, pela graça da longa vida que me deu por meio de minha mãe e de
meu pai e as estrelas com que ele encheu as minhas mãos”.
Ele
agradeceu, ainda, aos colegas parlamentares, pela consideração com que
sempre o tratam e pelo apoio que lhe deram. “A política tem essas
virtudes, a convivência e convergência de ideias. O nosso convívio aqui
na casa cria uma certa intimidade que nos ligam no dia a dia, e nos
fazem amigos. Sempre cultivei o diálogo e a paz, é do meu temperamento.
Deus me poupou do sentimento do ódio e do ressentimento, da inveja e do
desejo de vingança, nunca tive inimigos. E, mesmo os adversários, tive
sempre um convívio em que os tratei com cordialidade e amizade”,
afirmou.
Sarney deixou, ainda, sua opinião sobre temas como
Maioridade Penal, Plano Nacional de Educação, uso de drogas, entre
outros temas de relevância no Brasil. Por fim, José Sarney defendeu a
crença na política. “Não podemos ver a política como uma guerra.
Acabando as eleições, todos devem se unir pelo bem comum. É preciso ter
fé na política, ter utopias”, defendeu.
Finalizando o seu
discurso, ele disse que iria se despedir buscando nos folguedos
populares do Bumba Meu Boi do Maranhão, a sua toada de despedida.
“No
raiar desse dia, o céu é o reinado das estrelas onde a lua tem sua
morada. / E o orvalho é a lágrima da noite que chora pelas madrugadas. /
Adeus, eu já vou me bora, é chegada a hora de eu me despedir. / Assim
como o dia se despede da noite, eu me despeço de ti. / Deixo no senado
uma palavra, gratidão. / Saio feliz, sem nenhum ressentimento. / Ai meu
Senado, tenho saudades do futuro, muito obrigado”, declamou.
Após o
discurso, Sarney foi ovacionado pelos presentes, que depois discursaram
sobre a sua importância na história da política no Brasil.