quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Atentado terrorista deixa 12 mortos na França 

O alvo foi a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, que fora ameaçada após publicar caricaturas de Maomé 
 

Carta Capital

Um ataque terrorista contra a redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo deixou ao menos 12 mortos nesta quarta-feira 7, em Paris. O atentado foi realizado às 11h30 do horário local (8h30 em Brasília) por um grupo de homens fortemente armados, aparentemente profissionais, que invadiram a redação do jornal e fugiram após o crime. Conhecida por suas charges irônicas sobre figuras políticas e religiosas, a publicação se tornou alvo de terroristas muçulmanos após publicar charges de Maomé, o profeta do islã, e recebeu uma série de ameaças ao longo dos últimos anos.

Segundo fontes policiais, os autores do ataque gritaram “Vingamos o Profeta!”, em referência a Maomé. Ao abandonar o prédio, os agressores atiraram contra um policial, atacaram um motorista e atropelaram um pedestre com o carro roubado. Vídeos amadores mostram ao menos dois homens, mascarados, vestidos de preto e portando armas automáticas, trocando tiros com policiais nas ruas da capital francesa. Em um dos vídeos, é possível ouvir os homens gritando allahu akbar, termo árabe que significa “Deus é grande”, e um deles executa um policial ferido, caído no chão, com um tiro à queima roupa na cabeça.

“Ouvi disparos, vi pessoas encapuzadas que fugiram em um carro. Eram pelo menos cinco”, declarou à AFP Michel Goldenberg, que tem um escritório na rua Nicolas Apert, onde fica a sede do jornal. Entre os mortos estão o diretor de redação Stéphane Charbonnier, o Charb, e três renomados chargistas: Jean Cabut, o Cabu, Georges Wolinski e Bernard Verlhac, conhecido como Tignous.

De acordo com informações da polícia francesa, após a invasão à redação da revista, localizada no oeste de Paris, três homens entraram em um carro em que um motorista os aguardava para a fuga. Eles seguiram para a Porte de Pantin, no noroeste da cidade, onde abandonaram o primeiro carro e roubaram um segundo. A polícia iniciou uma busca pelos agressores pelas ruas de Paris e as autoridades pediram à população que evitasse circular e utilizar transportes públicos. Após o ataque, todas as redações de jornais baseadas em Paris foram colocadas sob proteção policial, assim como templos religiosos e escritórios do governo.

O presidente da França, François Hollande, dirigiu-se até o local do atentado e confirmou tratar-se de um ataque terrorista, o mais violento registrado na França em 40 anos. “É um atentado terrorista, não há dúvida”, disse Hollande, definindo o atentado como “um ato de uma barbárie excepcional”.

Segundo fontes policiais, os homens envolvidos no ataque contra a revista demonstraram calma, determinação e eficiência, sinais de que eles teriam passado por treinamento militar intenso. “Vemos claramente pela maneira que portam suas armas que agem discretamente, bem ao estilo militar, com frieza. Eles receberam treinamento. Eles não agiram por impulso”, afirmou uma fonte policial.

“O mais impressionante é a sua atitude. Eles foram treinados na Síria, no Iraque ou em outro lugar, talvez até mesmo na França, mas o certo é que eles foram treinados”, enfatizou, destacando também o sangue-frio dos terroristas.

Em novembro de 2011, após publicar uma caricatura de Maomé em sua capa, com a manchete “Charia Hebdo”, referência à sharia, a lei islâmica, a redação do Charlie Hebdo foi atacada com uma bomba incendiária. O Maomé caricaturado pela Charlie Hebdo em 2011 prometia “100 chicotadas se você não morrer de rir”. A edição, dizia a revista, era ‘editada’ por Maomé.

Em setembro de 2012, o Charlie Hebdo publicou novas caricaturas de Maomé. Na capa, o profeta muçulmano aparecia em uma cadeira de rodas, empurrada por um judeu ortodoxo, sob o título “Intocáveis 2″. Era uma referência ao filme francês Untouchables, estrelado por François Cluzet e Omar Sy, que contava a história da amizade entre um homem rico e doente e seu cuidador, um imigrante. Dentro da publicação, novas caricaturas exibiam Maomé nu.

Retratar Maomé é um ato problemático, pois as imagens do profeta são consideradas proibidas por muitos muçulmanos. Para muitos líderes religiosos sunitas, as representações visuais de Maomé poderiam provocar “idolatria” e, por isso, são proibidas.

Edição desta quarta fazia referência ao islã

O Charlie Hebdo fez a divulgação em sua edição desta quarta-feira 7 do novo romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior. A obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois da eleição de um presidente da República muçulmano. “As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes… Em 2022, faço o Ramadã!”, ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.