Brasileiro foi executado na Indonésia sem receber a extrema-unção, diz padre
Marcos Archer foi arrastado da cela chorando, segundo religioso.
do G1
O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira foi executado na Indonésia sem
direito à extrema-unção, segundo o padre Charles Burrows, que afirma
ter sido impedido pelas autoridades do país de dar o último conforto ao
condenado antes do fuzilamento ocorrido no dia 17 de janeiro.
Em entrevista ao grupo de mídia australiano "Fairfex Media", reproduzida pelo jornal "The Sydney Morning Herald",
o padre católico, que atua na Indonésia há mais de 40 anos, disse que
um desentendimento impediu o acesso dele à ilha onde fica a prisão e,
com isso, a realização dos últimos rituais de reconciliação e
penitência.
"Os guardas foram muito educados, mas o procurador não me dava a carta
para entrar na ilha. A embaixada brasileira ficou muito chateada. Eles
me disseram que ninguém se preocupou em cuidar dele [Archer].
Normalmente, há um momento em que o pastor ou padre vão para
consolá-los. Ninguém consolou o Marco", disse, o padre, que detalhou
ainda os momentos finais de desespero do brasileiro, que era católico.
"Ele teve que ser arrastado da cela chorando e gritando 'me ajude'",
disse Burrows, acrescentando ainda que o brasileiro defecou nas calças.
Segundo o padre, o brasileiro chorou "durante todo o tempo até os últimos minutos".
Na sexta-feira (20), o governo brasileiro decidiu adiar o início da atuação do embaixador da Indonésia em Brasília, Toto Riyanto, em razão do estremecimento nas relações entre os dois países.
No mesmo dia em que o brasileiro Marco Archer foi executado, Dilma
divulgou nota oficial na qual se disse "consternada e indignada" com a
decisão do governo da Indonésia e anunciou que havia decidido chamar o
embaixador brasileiro em Jacarta para "consultas". Na linguagem
diplomática, chamar um embaixador para consultas representa uma espécie
de agravo ao país no qual está o embaixador.
Um dia antes da execução de Marco Archer, o assessor especial da
Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse
que o fato de o governo indonésio não aceitar os pedidos de clemência
criaria “sombra” nas relações diplomáticas entre os países. Dilma havia
apelado pessoalmente ao colega da Indonésia para tentar evitar a
execução.
O instrutor de voo livre Marco Archer havia sido preso em 2004, ao
tentar entrar na Indonésia com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos
de uma asa delta. A droga foi descoberta pelo raio-x, no Aeroporto
Internacional de Jacarta. Archer conseguiu fugir do aeroporto, mas duas
semanas depois acabou preso novamente. A Indonésia pune o tráfico de
drogas com pena de morte.