Os senadores maranhenses deram seus recados em 2015
por Ribamar Correa
Foi um ano essencialmente político para o Congresso Nacional. Senado da
República e Câmara Federal foram transformados em campos de batalha nos
quais governo e oposição travaram embates memoráveis em meio a uma crise
política sem precedentes neste século, tendo a presidente da República
chegado ao Natal ameaçada de sofrer impeachment, e em meio a uma crise
econômica fortemente corrosiva que impôs ao país um encolhimento do
Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 3,5%, por muitos considerado uma
catástrofe. Nesse cenário ímpar, o Senado da República foi muito mais
do que o Poder Moderador, pois ali as decisões foram tomadas no embate
forte, nos quais os três senadores maranhenses – João Alberto (PMDB),
Edison Lobão (PMDB) e Roberto Rocha (PSB) – se movimentaram
intensamente, cada um em campo de ação próprio, mas raramente atuando
como bancada no que diz respeito aos interesses do Maranhão. Os três se
destacaram, apesar das muitas dificuldades que, de um modo geral, os
congressistas enfrentaram.
João Alberto (PMDB) teve um ano de muito movimento
nos bastidores da Câmara Alta, dedicado principalmente à tarefa quase
diária de manter de pé e intacta a bancada do PMDB e manter afastadas as
ameaças que cotidianamente rondaram o Palácio do Planalto a partir do
Congresso Nacional.
Aos 80 anos e no segundo – e, conforme declarou, o último – mandato
senatorial, o senador João Alberto foi lançado para o centro do campo de
batalha ao ser escolhido, pela quinta vez, presidente do Conselho de
Ética e Decoro Parlamentar do Senado. Ele relutou, chegou a recusar, mas
por ser um político íntegro e experiente, a bancada do PMDB fez sobre
ele uma pressão tão forte que acabou por dobrá-lo. Ao assumir, deixou
bem claro o que para ele é fundamental: sob sua presidência, denúncia
contra senador só será aceita com provas documentais ou materiais
indiscutíveis, não aceitando como peça acusadora recortes de jornais e
revistas, por exemplo. Na semana passada, entrou para o olho do furacão
ao receber a denúncia feita pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
e José Medeiros (PPS-MT) contra o ex-líder do Governo, senador Delcídio
do Amaral (PT-MT), preso na Operação Lava Jato sob a acusação de operar
para atrapalhar as investigações. No mesmo ato, recebeu denúncia contra
o denunciador Randolfe Rodrigues, acusado de participar de esquema no
Governo do Amapá. Na votação politicamente mais importante do Senado,
João Alberto votou contra a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT).
A monumental confusão que vem sacudindo o Senado não impediu o
senador Joao Aberto de atuar como parlamentar: é vice-presidente da
Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, titular da Comissão de
Assuntos Econômicos, da Comissão de Ciência e Tecnologia e da Comissão
de Educação. Foi relator de várias matérias e peregrinou muitas vezes na
Esplanada dos Ministérios. E no campo essencialmente político, integra a
ala do PMDB alinhada ao Palácio do Planalto e que não aceita o
impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Fecha o ano com bom saldo
político e parlamentar.
Edison Lobão (PMDB) está fechando o que com certeza
foi o pior ano da sua longa e rica trajetória política. Um dos
parlamentares mais experientes de todo o Congresso Nacional, do qual foi
presidente, o senador maranhense teve um ano dividido entre o trabalho
no Senado e o enfrentamento duro e implacável de uma denúncia na
Operação Lava Jato. Tal situação o obrigou a atuar de maneira mais
discreta, mas não o impediu de atuar intensamente no campo parlamentar.
Lobão preside a importante Comissão de Assuntos Sociais e é titular da
Comissão de Constituição e Justiça e da Comissão de Relações Exteriores e
Defesa Nacional, tendo participado de todas as reuniões e relatado
matérias.
Aos 79 anos, o senador atuou fortemente como um dos articuladores do
PMDB para garantir apoio sólido à presidente Dilma Rousseff, tendo sido
seu ministro de Minas e Energia e com quem firmou sólida amizade. Lobão é
também um interlocutor frequente do vice-presidente Michel Temer.
Respeitado por sua habilidade política, Lobão não aceita a denúncia de
que teria participado de um esquema na Petrobras que teria rendido R$ 1
milhão para a campanha da então governadora do Maranhão e candidata à
reeleição Roseana Sarney (PMDB). Logo que foi acusado, ainda no primeiro
semestre, o senador peemedebista reagiu com um duro discurso no Senado,
cuja versão mantém intacta, pois até agora não surgiu qualquer traço de
prova que desse sentido à acusação. Apesar da pancadaria que vem
sofrendo na grande imprensa, o senador Edison Lobão chega ao final de
2015 de pé, atuando como parlamentar e reafirmando a versão de que nada
deve e que está sendo injustiçado. Fecha 2015 entre a cruz e a espada,
mas mostrando dignidade e coerência.
Saído das urnas eleito numa dobradinha com o ex-deputado federal Flávio Dino para governador, o senador Roberto Rocha (PSB)
desembarcou no Senado da República disposto a conquistar espaço
próprio. No campo parlamentar propriamente dito, ele operou com
desenvoltura e intensidade, ocupando a tribuna com frequência,
apresentando projetos de lei importantes, como o que propõe o aumento do
valor do Bolsa Família, por exemplo. Atuou corretamente na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania, considerada a mais importante da
Casa, da qual é titular e foi relator de vários projetos, participando
das discussões e votações mais importantes da Casa em matéria
legislativa.
Aos 49 anos e com a experiência de um mandato de deputado estadual,
dois de deputado federal, um incompleto de vice-prefeito de São Luís e
transportando na pasta o aprendizado com o pai, ex-governador Luiz
Rocha, uma das raposas mais bem sucedidas da política maranhense,
Roberto Rocha vem atuando como quem quer se desvencilhar de uma
amarração com o governador Flávio Dino. Isso não quer dizer que esteja
querendo romper e se afastar do governador. Ele tem dado demonstrações
de que quer se manter como aliado, mas com caminho aberto para traçar a
trajetória que bem entender. Nesse sentido, o senador do PSB tem atuado
com visível independência, inclusive em relação ao seu partido, do qual
discorda, por exemplo, na discussão do impeachment da presidente Dilma
Rousseff, sendo o PSB a favor e ele contrário. Seu primeiro ano no
Senado da República foi altamente positivo, tanto no campo legislativo
quanto na seara política.
Não foi um ano normal, e mesmo marcado por fortes tensões, o Senado
da República abriu caminho para que mandatos que poderiam ser refreados
pela timidez ganhassem mais agilidade e mais espaço no tabuleiro do
Congresso Nacional. Assim, cada um com as suas características, os
senadores maranhenses fizeram a sua parte.