Brasil é o quinto pais mais perigoso para jornalistas
Agencia Brasil
Em 2015, o Brasil voltou a se mostrar um dos países mais perigosos
para o exercício da atividade jornalística, com o registro de oito
mortes de profissionais no exercício da profissão, segundo relatório
sobre a liberdade de imprensa divulgado hoje (22) pela Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
De acordo
com levantamento mantido pela Press Emblem Campaign (PEC), organização
não governamental mantida por jornalistas com sede na Suíça, o Brasil
subiu cinco posições em relação à ultima pesquisa, e ocupa agora a 5ª
colocação como país mais letal para os jornalistas, à frente de nações
em guerra como Líbia, Iêmen e Sudão do Sul.
Um dos casos mais
emblemáticos ocorreu em agosto do ano passado. O radialista Gleydson
Carvalho apresentava seu programa quando homens armados invadiram o
estúdio da rádio em que ele trabalhava, em Camocim (CE), e o alvejaram
ao vivo. O jornalista morreu minutos depois, a caminho do hospital.
Ficou
também batizado por organizações internacionais que monitoram a
atividade jornalística como “novembro negro” no Brasil o mês em que três
execuções ocorreram em 11 dias: de um radialista em Pernambuco e de
dois blogueiros independentes no Maranhão.
Os números de 2015
demonstram uma tendência de alta no país em comparação às pesquisas
divulgadas em 2013/2012 (5) e 2014/2013 (7), que mediram a violência
contra jornalistas entre outubro de um ano e outubro do ano seguinte.
Agora as pesquisas são feitas de janeiro a dezembro de um mesmo ano.
Impunidade
No
ranking da PEC, o país ficou atrás apenas de Síria (13 mortes) e Iraque
(10), que enfrentam graves conflitos armados, México (10), em que a
luta contra os cartéis de tráfico de drogas é uma das principais
ameaças, e França (9), que sofreu o ataque terrorista contra o jornal
satírico Charlie Hebdo, em janeiro de 2015.
“É no mínimo
embaraçoso um país estar na quinta colocação se você comparar com países
que estão em guerra”, disse o presidente da Abert, Daniel Pimentel
Slaviero. A entidade destaca a impunidade como uma das causas do
fenômeno. Nos últimos quatro anos, apenas quatro casos envolvendo a
morte de jornalistas foram levados a julgamento no Brasil.
A
maioria dos jornalistas mortos no Brasil trabalhavam na cobertura
política ou na apuração de casos de corrupção contra políticos ou
empresários, uma peculiaridade do país, de acordo com o Comitê de
Proteção aos Jornalistas, que também é uma ONG internacional que atua na
denúncia de violência contra profissionais de comunicação.
Agressões e ameaças
Ao
todo, o Brasil registrou 114 casos de agressões, atentados, ataques,
ameaças, detenções, ofensas e intimidações contra jornalistas em 2015.
Os casos mais comuns são os de agressões, que tiveram um aumento
sobretudo diante da ocorrência maior de manifestações de rua desde 2013
no país.
O Brasil registrou 64 agressões contra jornalistas em
2015. O mais corriqueiros continuam a ser os episódios em que os alvos
de apurações e reportagens foram os agressores, mas a Abert manifestou
grande preocupação com o aumento das agressões perpetradas por agentes
de Estado contra jornalistas devidamente credenciados e claramente
identificados.
“Consideramos gravíssimo as agressões provenientes
das polícias, em especial de policiais militares, que têm a obrigação
constitucional de preservar atividade da imprensa”, afirmou Slaviero.
“Está havendo uma inversão de valores. Estão tratando uma câmera, um
celular, como uma arma, e com isso os profissionais da imprensa têm sido
agredidos, tomado tiros, cacetadas e balas de borracha”.
Em 29
de abril do ano passado, por exemplo, um cinegrafista da TV Bandeirantes
foi mordido por um cachorro da Polícia Militar durante uma manifestação
de professores em Curitiba. Outro exemplo, destacado pelo relatório da
Abert, foi o do repórter Felipe Larozza, da revista Vice, que levou uma
cacetada nas costas enquanto cobria uma manifestação do Movimento Passe
Livre, em São Paulo, apesar de estar claramente identificado com crachá e
três adesivos de “Imprensa”.
Para que a situação de violência
contra jornalistas no Brasil comece a mudar, a Abert defende a aprovação
de dois projetos de lei em tramitação no congresso: o 7107/2014, que
propõe que atentar contra a vida e a integridade física de jornalistas
se torne crime hediondo; e o 191/2015, que propõe que a Polícia Federal
assuma a investigações de crimes contra jornalistas no caso de omissão
de autoridades locais.