"O presidente externou uma visão de preconceito, de ódio", comenta Flávio Dino ao jornal O Globo
Flávio Dino comentou declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro e sobre o cenário nacional |
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirma que o presidente Jair Bolsonaro é “insano” e lidera uma “minoria sectária” que pretende “criar confusão e dividir o país”.
Na sexta-feira passada, o presidente foi gravado usando um tom pejorativo ao se referir ao governador, em conversa com o ministro Onyx Lorenzoni. “Daqueles governadores ‘de paraíba’, o pior é o do Maranhão. Tem que ter nada com esse cara”, disse Bolsonaro.
Na opinião de Dino, o presidente dá declarações “extremistas” para esconder seu “mau governo”. Reeleito numa coligação que juntou 16 partidos, do PT ao DEM, ele defende a formação de uma frente ampla contra o bolsonarismo nas eleições municipais de 2020.
O GLOBO: O que o sr. achou da fala do presidente?
FLÁVIO DINO: Foi a prova que tem um insano no comando do país. Há um método instalado no poder central. É um método de discriminação, de perseguição e de preconceito. O presidente externou uma visão de preconceito, de ódio. E reiterou essa visão em outro vídeo, dizendo que todo nordestino é “pau de arara” e “cabeça chata” (em live com o ministro Tarcísio Freitas, na quinta à noite). Isso nada mais é que a repetição de tratamentos pejorativos para menosprezar uma região que concentra um terço da população brasileira.
E o fato de ser descrito como o pior dos governadores?
DINO: Não me abalei. Não é a opinião do presidente que baliza as minhas ações. Fui eleito duas vezes em primeiro turno, em 2014 e 2018. Isso confirma que temos apoio da maioria da sociedade no nosso Estado. Em uma semana, nosso governo teve mais resultados que o dele em 200 dias.
O sr. vinha evitando o confronto com o Planalto. Ficou surpreso com o tom do presidente?
Fiquei, porque foi uma agressão gratuita. Não havia nenhum episódio que justificasse esse nível de agressividade, de perseguição e de retaliação. Eu e os demais governadores de partidos de oposição temos procurado praticar a boa política republicana. Com o direito à crítica, garantido na Constituição, e o diálogo institucional, a favor de tarefas de interesse comum. Essa agressividade não é da tradição brasileira. João Figueiredo, o último presidente da ditadura militar, manteve relações institucionais com governadores de oposição, como Franco Montoro (SP) e Leonel Brizola (RJ).
O sr. teme retaliações práticas ao seu Estado?
Espero que não. Não quero nenhum tipo de privilégio, só o que está garantido na Constituição e nas leis. Se essa retaliação se confirmar, vou usar todos os meios para proteger os interesses de sete milhões de pessoas. Ele disse para não “dar nada para esse cara”, como se eu pedisse alguma coisa para mim. Nunca pedi e nunca pedirei. O que ele quis dizer foi para não dar nada à população do Estado, e isso viola os artigos 19 e 37 da Constituição. Até achei engraçado o termo. Agora vou cantarolar aquela música do Roberto Carlos, “Esse cara sou eu”. O presidente me promoveu, criou um jingle para mim.
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