terça-feira, 12 de abril de 2022

Empreiteira maranhense que conquistou R$ 620 milhões na gestão Bolsonaro nunca havia sido contratada pelo governo antes

O governo federal reservou desde 2019 cerca de R$ 620 milhões para o pagamento de obras tocadas pela Engefort Construtora e Empreendimentos. A empresa, que nunca havia sido contratada antes pela administração federal, vem ganhando licitações em série durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro e já recebeu efetivamente mais de R$ 84 milhões. Os números foram obtidos pelo GLOBO em consulta ao Portal da Transparência do governo.


A Engefort deixou de ser uma empresa irrelevante nas contas públicas para se tornar a segunda maior construtura em empenhos para obras em 2021, com R$ 396 milhões. Os recursos vêm principalmente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal dominada pelo Centrão e ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Segundo reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” publicada ontem, a empreiteira ganhou a maioria das concorrências de pavimentação do governo Bolsonaro nas licitações das quais participou sozinha ou na companhia de uma empresa de fachada registrada em nome do irmão de seus sócios.


Empenhos da Codevasf


De acordo com os dados do Portal da Transparência do governo federal, foram empenhados R$ 619,9 milhões desde 2019. O empenho ocorre quando o governo reserva o dinheiro que será pago quando a obra for concluída. Os pagamentos começaram efetivamente em 2020 e somam mais de R$ 84 milhões desde então.


A Codevasf responde por mais de R$ 614 milhões empenhados e mais de R$ 80 milhões pagos. O Portal da Transparência mostra ainda R$ 5,7 milhões empenhados para despesas do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), órgão também ligado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, mas sem nenhum pagamento ainda.


O valor restante é relacionado à Universidade Federal do Pará (UFPA), vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Segundo o Portal da Transparência, o dinheiro foi usado em serviços de engenharia e pavimentação de vias de campi localizados em Belém e no interior do estado. Essa licitação foi aberta em novembro de 2018, mas o contrato foi assinado em 2019.


O ano em que a empresa mais recebeu recursos foi em 2021: R$ 42,4 milhões, de um total de R$ 396,4 milhões empenhados. Em 2022, não houve novos empenhos, mas os pagamentos continuaram e já somam R$ 10,1 milhões, segundo o Portal da Transparência. Em 2020, foram R$ 32 milhões em pagamentos.


Escalada no ranking


A Engefort foi a construtora que mais recebeu repasses da Codevasf em 2021, e a segunda em todo o governo federal, atrás apenas da LCM Construção, que teve R$ 451,5 milhões empenhados para obras. Em 2018, último ano antes da posse de Bolsonaro, reportagem do GLOBO mostrou que empreiteiras tradicionais, como Odebrecht e OAS, que foram alvos da Lava-Jato, perderam espaço, dando lugar a outras de porte menor como a LCM.


A Engefort tem sede em Imperatriz, no sul do Maranhão, e conquistou contratos para asfaltamento em vários estados, em especial no Nordeste, mas também em lugares mais afastados de sua base, como o Amapá. Segundo o Portal da Transparência, ela foi aberta em novembro de 2008 e começou a participar de licitações em 2018.


O GLOBO tentou contato telefônico com a empresa, mas não obteve retorno. À “Folha de S.Paulo”, a Codevasf informou que suas concorrências seguem a legislação, exigindo o mesmo dos licitantes. (O Globo)