José Sarney ainda tentou viabilizar nova eleição, mas temeu derrota
FERNANDO RODRIGUES (UOL)
DE BRASÍLIA
Há anos José Sarney vem sinalizando que iria se aposentar da política eleitoral. Numa entrevista publicada pela Folha em 31 de dezembro de 2012, disse: “Na minha idade, não posso jamais pensar em ser candidato novamente ao Senado (…) Mandatos eletivos não vou ter mais”.
Mas o político maranhense –radicado eleitoralmente no Amapá– agia sempre de maneira oposta. Nos últimos cerca de 30 dias, Sarney tentou de todas as formas rearticular suas forças políticas para viabilizar mais uma eleição. Tinha poucas esperanças. Nesta segunda (23), vieram as vaias contra ele durante a passagem da presidente Dilma por Macapá. A inviabilidade do projeto ficou evidente. Até o seu aliado mais heterodoxo, o PT, não teria mais como acolhê-lo.
No seu entorno, ninguém duvida: se tivesse segurança de vitória, Sarney disputaria a eleição. Só anunciou a aposentadoria pois não quer ser expelido da política com uma derrota eleitoral nas costas.
Uma nova eleição ao Senado o levaria a um eventual mandato até 2022, quando estaria com quase 92 anos. Hoje, aos 84, já é um dos políticos há mais tempo em atividade. Chegou à Câmara como deputado pelo Maranhão em 1955. Nunca mais se desgrudou dos cargos eletivos. Já foi de tudo, inclusive presidente da República (1985-1990).
Coerência não foi uma marca de Sarney. Ele presidiu o PDS (sigla que sucedeu à Arena, de sustentação à ditadura militar), foi cacique do PMDB (sucessor do MDB, de oposição aos militares), aliado do PSDB (no governo FHC) e do PT (desde o governo Lula).
Afável no trato, agudo nas observações e com trânsito por todo o espectro ideológico, Sarney se tornou num oráculo dos políticos em Brasília. Na dúvida sobre como agir, muitos o consultavam. Foi assim com FHC, Lula e Dilma.
O outono de sua carreira deve ser só eleitoral. Até porque, ele sempre repete: “A política só tem uma porta. Não tem porta de saída. Não poderei deixar de fazer política, de ser político”