Torturado pela ditadura, maranhense Manoel da Conceição teve prego enfiado no pênis e choque
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Manoel da Conceição |
O presidente Jair Bolsonaro disse na quinta-feira (8) que o coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi durante a ditadura militar, é um “herói nacional”. Na saída da residência oficial do Palácio do Alvorada, Bolsonaro falou com jornalistas sobre um almoço marcado com a viúva de Ustra, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra. “Tem um coração enorme. Eu sou apaixonado por ela. Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer”, afirmou o presidente.
O DOI-Codi era o órgão de repressão política no período do governo militar. Entre 29 de setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974, período em que o coronel Brilhante Ustra esteve à frente do DOI-Codi, foram registradas ao menos 45 mortes e desaparecimentos forçados, de acordo com relatório elaborado pela Comissão Nacional da Verdade, que apurou casos de tortura e sumiço de presos políticos durante os governos militares.
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Um desses casos de tortura aconteceu com o camponês maranhense chamado Manoel Conceição Santos, um dos maiores articuladores da luta camponesa em resistência ao Regime Militar.
O livro “Manoel da Conceição, sobrevivente do Brasil” (Ética Editora, 348 páginas) do historiador Adalberto Franklin detalha cenas estarrecedoras de como o maranhense que nasceu em 1935 na região de Pedra Grande, no Maranhão, foi preso e torturado na ditadura militar. Mané, como gosta de ser chamado, foi uma das mais perseguidas vítimas do Regime Militar em Pindaré (MA).
De acordo com o livro, deram choques no testículo de Manoel da Conceição e depois enfiaram um prego no seu pênis. Ele também teve uma perna amputada por conta de tiros que sofreu.
Abaixo, trechos do livro que relatam a tortura a Manoel da Conceição.
Quem foi Manoel da Conceição?
Durante a ditadura militar, Mané se dedicou à organização e educação de trabalhadores rurais na região do rio Pindaré em sua luta contra o latifúndio e pela conquista da terra. Foi alvo de violenta repressão da polícia militar do governo José Sarney (1966-70), sendo baleado e preso em julho de 1968, ocasião em que teve parte da perna direita amputada por falta de atendimento médico. Na seqüência, foi preso pela polícia política (1972) e dado como “desaparecido”, quando foi submetido a sessões de interrogatório e tortura, sendo solto graças à intervenção da AP e da Anistia Internacional. Liberdade breve, pois, mais uma vez, os militares o prenderam, desta vez em São Paulo, com mais torturas e sevícias (1975). Novamente a solidariedade – da Anistia e das Igrejas católica e protestante – conseguiu resgatá-lo das mãos assassinas da ditadura, com o que Manoel partiu para a Suíça (1976), onde permaneceu até a decretação da Lei da Anistia (1979).
No exílio, lançou o livro-denúncia Essa terra é nossa, contando sua história de luta pela reforma agrária e de resistência à ditadura, uma leitura necessária e fundamental para compreender os “anos de chumbo”. Livro que acaba de ser reeditado pela UFMG (com o título: Chão de minha utopia), através do Projeto República, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Foi Manoel da Conceição que deflagrou uma greve de fome, ao lado do então deputado federal Domingos Dutra, contra a intervenção do Diretório Nacional que revogou a decisão estadual de apoiar Flávio Dino (PCdoB) para governador do Maranhão, aprovando, em substituição, o nome de Roseana Sarney (MDB). Parcela expressiva da opinião pública e da imprensa tomou contato (quase) pela primeira vez com a pessoa de Manoel da Conceição.
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Blog do John Cutrim