O calculo politico de bolsonaristas para evitar Flavio Dino no STF
A campanha dos bolsonaristas contra a indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF) está provocando uma inusitada aliança de bastidores. Nos últimos dias, senadores de oposição passaram a sinalizar aos representantes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Senado que, para evitar a ida de Dino para o STF, aprovariam com facilidade o advogado-geral da União, Jorge Messias, caso fosse ele o indicado.
A equipe da coluna conversou com senadores dos dois campos, dos quais cinco bolsonaristas, que confirmaram a informação.
Um senador próximo de Jair Bolsonaro, que pediu para não ser identificado, admitiu à equipe da coluna que inclusive torce pela escolha do atual chefe da AGU.
Os oposicionistas não gostam do perfil beligerante e provocativo do titular da pasta da Justiça.
Desde setembro, quando Flávio Bolsonaro declarou à equipe da coluna que tumultuaria uma eventual indicação de Dino, lideranças da oposição como o próprio Flávio, o ex-ministro de Bolsonaro Rogério Marinho (PL-RN) e o senador Jorge Seif (PL-SC) vem discutindo estratégias para tentar barrar Dino.
As reportagens do “Estadão” mostrando que a mulher de um dos líderes de uma das maiores facções criminosas do Brasil no Amazonas, Luciane Barbosa Farias, foi recebida em duas ocasiões no ministério por um secretário de Dino, acirraram ainda mais os ânimos contra ele no Senado.
O ministro tem apoio de importantes integrantes do STF, como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.
Mas os petistas do Congresso, que trabalham pela indicação de Messias, aproveitaram o desgaste de Dino para começar a construir pontes com a ala conservadora.
Pesa a favor do ministro da AGU o fato de ele ser evangélico da Igreja Batista, além de ter um perfil mais conciliador do que Dino, que coleciona embates com a oposição.
Os petistas têm usado como argumento junto a Lula o fato de que a eventual indicação de Messias representaria ainda a chance de fazer um aceno a um eleitorado que abraçou a candidatura de Bolsonaro – além de neutralizar uma possível ofensiva da oposição, que se veria constrangida a endossar um evangélico para o Supremo.
Em junho, Messias foi vaiado ao citar Lula durante a Marcha Para Jesus, em São Paulo. O presidente foi convidado a participar do evento religioso, que terminou com um ato nas proximidades do Campo de Marte, na Zona Norte da capital paulista, mas recusou e mandou o chefe da AGU como representante.
Desde então, o quadro foi se tornando mais favorável a Messias na mesma proporção em que ficou mais complicado para Dino.
Já o terceiro candidato ao STF, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, é visto como um representante do “sistema político”.
Ex-funcionário do Senado, Dantas tem o apoio de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Davi Alcolumbre (União-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) – o que, na avaliação de governistas, poderia lhe tirar alguns votos, já que bolsonaristas não iriam querer fortalecer o MDB de Renan. (O Globo)