O final da grande festa foi domingo. A cada quatro anos, mais ou menos com o início dos festejos juninos na nossa região, chega aquela epidemia de modo avassalador. Desta vez, ela veio de mansinho, dominando as redes sociais, ruas e muros de muitas casas. Eis que, de repente, a Copa do Mundo nos fez lembrar que somos brasileiros e patriotas.
Gosto muito de futebol. Até já confessei aqui, neste espaço, as alegrias – e as tristezas – que o Vasco da Gama me traz. Faço parte daquele grupo de pessoas que vê graça (e arte) nos embates travados por 22 marmanjos chutando a bola em um gramado qualquer. Contudo, o gosto pelo futebol tem pouquíssima relação com o comportamento coletivo vivenciado aqui durante as copas.
Sou de um tempo triste em que os alunos eram obrigados a cantar o Hino Nacional toda segunda-feira, enquanto a bandeira do Brasil era hasteada. Na primeira página de nosso caderno de “educação moral e cívica”, tínhamos de grudar uma foto de cada general-presidente. Minha geração não foi educada para sentir amor pela pátria, mas para sentir medo.
De lá para cá, veio a redemocratização. Já são 25 anos de estabilidade institucional, o maior período de normalidade política desde a Proclamação da República, em 1889. Só essa conturbada história de tensões e golpes pode explicar o imenso desprezo que o brasileiro tem pelo Brasil, como País.
Gostamos de anunciar em boa voz nossas maravilhas naturais e a cordialidade do povo. Tudo muito lindo, sereno e ajeitado. Enxergamo-nos apenas como convidados para uma mesma festa maravilhosa, em um lugar encantador, aconchegante e que não tem data para terminar: uma festa chamada Brasil.
Só muito esporadicamente atentamos para o fato de que somos uma pátria, um povo, uma nação. Não precisamos nem de todos dedos de uma das mãos para contar as Diretas Já (1984), o Fora Collor (1992) e as Manifestações dos 20 centavos (2013).
Aí veio a Copa do Mundo. Para além do futebol, milhões (bilhões?) de reais que o evento movimenta em publicidade nos instigam a colocar uma bandeirola na janela do carro, a vestir a camisa da Seleção Brasileira e a cantar o Hino Nacional a plenos pulmões. Tudo muito bonito, mas tão artificial quanto passageiro.
Talvez mais e mais anos de estabilidade institucional nos ensinem que o verdadeiro patriotismo não está na musiquinha animada do comercial do grande banco, mas no cuidado com o patrimônio público, que é de todos nós. Que a nação brasileira não precisa de um uniforme amarelo para demonstrar o amor pelo País, mas de maior cuidado na escolha de nossos representantes e de respeito pela atividade política. E que povo unido não é apenas o que canta o “hino a capela” nos estádios, mas, principalmente, aquele que trabalha pelo crescimento do Brasil.